Remetemos os leitores para a fonte desta informação, a Monografia A Homeopatia e a Clínica Geral, redigida pelo Presidente da SHP em Março de 1993, para o seu “Concurso de Habilitação ao grau de Consultor Clínica Geral”, onde alcançou a classificação de 18 valores, por um júri independente constituído por três médicos.
Este trabalho inovador e bastante polémico, nomeadamente pelas considerações da sua dedicatória, constitui mais um marco da afirmação da Homeopatia no mundo científico, em Portugal.
MONOGRAFIA - A HOMEOPATIA E A CLÍNICA GERAL |
Com o advento da CG/MF (Clínica Geral/Medicina Familiar), no início da década de 80, os Cuidados de Saúde Primários sentiram uma nova onda de humanização na relação médico-paciente (e não do Todo-Poderoso /Paciente) que trouxe inteligibilidade ao diálogo curativo e vantagens para todos os componentes.
O mesmo se passou nos séculos XVIII e XIX com Hahnemann que, à semelhança do clínico geral actual, e de Läennec (1781-1826, descreveu as formas clínicas das patologias humanas ao estudar os sintomas das doenças) que também no seu tempo, sentiu a lacuna na abordagem do paciente e iniciou a metodologia da sistematização dos sintomas e sinais por ele apresentados.
Observava de uma forma rigorosa e minuciosa os indivíduos que o procuravam para serem tratados. No seu interrogatório procurava aquilo que ele chamava a contra-imagem medicamentosa com os seus relevos, que são afinal as características.
Pela pesquisa paciente e constante dos pormenores apresentados, tomou consciência de que o indivíduo reagia com todo o seu corpo e psiquismo e é por isso que aconselhou a ter em consideração essa totalidade, afim de procurar a correspondência medicamentosa útil e dar o remédio particularmente apropriado.
Tinha compreendido, aliás como Claude Bernard mais tarde (1815-1878), com a introdução do método experimental nas ciências biológicas, que a totalidade dos sintomas era importante, tanto no estudo do indivíduo são, como no doente, porque o que tem valor é o “conjunto”. Linguagem que poderia (e deve) muito bem ser proferida por um clínico geral actual, seja ou não homeopata!
Assim se ultrapassava mais uma fase dos aspectos nocivos da tecnologia do pós-guerra, em que se “decompunha” o doente em peças e se tratavam isoladamente consoante as queixas, valorizando-se os sinais em detrimento dos sintomas.
Existe uma profunda analogia entre este renovar da Medicina/Saúde e a abordagem homeopática.
Não podemos esquecer o seu aspecto revolucionário da época (séc.XVIII), em que a medicina consistia em técnicas muitas vezes mais prejudi-ciais que benéficas, como por exemplo sangrias repetidas; alguns doentes sucumbiam com anemias ou até estado de choque, como aconteceu com alguns ilustres personagens, não poupando reis! Purgas, clisteres e posteriormente substâncias tóxicas (sais de mercúrio, bismuto, etc.).
Nessa altura, Hahnemann fundou uma medicina experimental, em que o conhecimento empírico foi devidamente verificado.
Para concluir, exponho a seguir, as linhas gerais da abordagem homeopática ou da consulta de Clínica Geral “perfeita”, “Holística”.
a) Numa consulta, devem explorar-se as suas potencialidades, não nos podendo esquecer de que os primeiros vinte segundos, decidem o tipo de comunicação e o resultado final.
Existe uma linguagem não verbal, que representa +93% (!) da consulta, chamada “body language”, manifestada pelo comportamento, expressões faciais, movimentos do corpo, postura e gestos do doente (ref. Mehrabian, citado por Anselmi em 1983, nas Jornadas de Medicina Familiar das Américas, Espanha e Portugal).
O médico deve cultivar qualidades tais como:
- empatia
- autenticidade e interesse
- concepção liberal da pessoa e das relações humanas
- flexibilidade
b) A doença é o resultado da interacção do componente patogénico com a reacção do indivíduo. Pela própria definição de saúde, teremos que abordar o paciente nas múltiplas influências “stressantes” a que está sujeito; devem privilegiar-se as de maior peso, nomeadamente as familiares, profissionais/sociais.
A compreensão do genograma e apgar familiar (grau de satisfação de cada membro da família, relativamente à sua família), dá-nos uma ideia da qualidade e quantidade dos agentes “stressores” e dos seus mecanismos de compensação individual (recursos de apoio social “scream” Cobb e Cassel, 1976), força interior que pode definir-se como um vigor psico-social para resistir à tensão (estudo de Kobasa); é um capital para nos mantermos saudáveis e é equivalente a uma estreita relação com a família e os amigos, sinais vitais do risco psico-social (altera a susceptibilidade do indivíduo perante a doença - estudos em animais e homens, realizado por Borysenko em 1982).
c) As linhas gerais da Consulta Homeopática, seguem o trajecto habitual que é ensinado na cadeira de Semiologia:
História actual
- Anamnese (ouvir o doente) | Antecedentes pessoais/ Antecedentes familiares
- Exame objectivo (observar o doente) | Examinar o doente, determinar a sua constituição (morfotipo).
- Epicrise (raciocínio/síntese) | Tentar compreender a origem das perturbações em causa e estabelecer o diagnóstico, o prognóstico e a
terapêutica.
Com esta análise, tenta situar-se o paciente em relação com o meio familiar, profissional ou social, a fim de se obterem dados para identificar possíveis causas patogénicas.
Valorizamos os pequenos detalhes que habitualmente são menosprezados (talvez pelo facto da medicina oficial não lhes encontrar ainda explicação satisfatória dentro da sua óptica mecanicista) e que no espírito dos Homeopatas são peças importantes para a construção do “puzzle” diagnóstico.
Assim por exemplo os mecanismos neuro-hormonais do stress (Seelley e Laborit) e a abordagem da medicina psicossomática, vieram encontrar explicação para um certo número de queixas que até há pouco eram negligenciadas e que a Homeopatia já há muito utilizava na elaboração duma história clínica, mas com uma atitude que só agora se começa a comprovar á luz da metodologia científica cartesiana.
Seelley define stress como qualquer agressão (traumatismo, fome, infecção, choque, irradiações, fadiga, tensão nervosa da não realização dos ideais de cada um) sofrida pelo organismo, bem como a consequente reacção não específica deste último (síndrome de adaptação); a referida reacção é de ordem neurovegetativa tecidual e endócrina, nela desempenhando papeis importantes a hipófise e as suprarrenais.
Após a elaboração do diagnóstico (relação doença-indivíduo), há que passar às atitudes curativas, que serão personalizadas, ou seja, adaptadas ao caso em questão, respeitando a integridade bio-psicológica da pessoa, em todas as suas vertentes de vida, inclusivamente a espiritual.
Por outras palavras, o tratamento tem que ser dinâmico (com capacidade de adaptação, isto é, passível de mudança), com uma graduação do mais simples e inofensivo até aos meios mais “agressivos”, se necessário for.
É de realçar que deve ser completo, ou seja, englobar medidas gerais de higiene (alimentar, de vida e mental).
Se inicialmente não for indicado, evitar prescrever medicamentos, reservando-os para quando necessário e evidentemente com escalonamento individualizado da sua potencialidade.
d) Quanto ao modo de actuação, pode definir-se a Homeopatia como sendo uma terapêutica reaccional, em que o seu objectivo visa restaurar o equilíbrio perdido, por duas vias interactivas:
- Estimulando os mecanismos de defesa homeostáticos do organismo: sistema imunitário, retículo-endotelial, hormonal, simpático-parassimpático e
o mecanismo psíquico que reage ao stress.
- Estabelecendo uma “ressonância biológica” com a força vital do organismo, que se pode definir como a resultante do conjunto vibratório (de
spins) de todos os átomos e moléculas que constituem as células do nosso organismo. Define-se ressonância, como a propriedade que um
pequeno estímulo periódico, com uma frequência próxima ou igual à do sistema a que é aplicado, provoca neste, causando uma grande amplitude
de vibração.
e) O paciente é encarado como um todo, tendo em linha de conta a sua interacção com o meio ambiente que o rodeia e a sua integração no meio social em que vive, além da sua vertente espiritual.
Procura-se tratar a unidade bio-psico-social e não apenas o órgão ou a função.
O combate de um sintoma isolado, é fruto de um raciocínio linear, método passível de lacunas, que conduz a uma terapêutica que é muitas vezes efémera e apenas paliativa.
Pelo contrário, a Homeopatia encara a doença não como um factor primitivo, mas como uma manifestação secundária, ou seja, a expressão da interacção agente-agressor (físico ou psíquico) com o indivíduo.
Esta abordagem científica do paciente, efectuada num contexto profundamente humanitário, relança a medicina na sua verdadeira finalidade:
A CURA INTEGRAL!
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